Páscoa na Ucrânia. As celebrações tradicionais da região de Volýnh

19 abril 2025

A Páscoa é uma antiga festa religiosa cujas tradições são acarinhadas e preservadas pelos ucranianos há séculos. Os habitantes de cada região acrescentaram-lhe elementos autênticos, enriquecendo os costumes comuns da celebração. Por exemplo, é interessante ver como os habitantes de Volýnh se preparam para a Páscoa e como a celebram. Tal como todos os ucranianos, vão à igreja, cozinham bolos da Páscoa e fazem ovos da Páscoa, mas fazem-no à sua maneira. Foi em Volýnh, em 2013, que foi encontrado um ovo da Páscoa que alguns estudiosos acreditam ser o primeiro. Foi feito há cerca de 950 anos.

Em Volýnh, a confeção do pão cerimonial, a paska, é tratada com especial respeito. Quando era posto no forno, fazia-se uma cruz e os ramos de salgueiro benzidos no Domingo de Ramos eram colocados por cima. Se os ramos fossem amarelos, o bolo da Páscoa seria da mesma cor e teria êxito (ou seja, a massa cresceria bem). O processo de preparação para a festa era longo e cheio de costumes, tal como os dias que se seguiam à noite da Páscoa. Por exemplo, uma tradição especial de Volýnh durante as celebrações é brincar com os ovos da Páscoa. Eis como os ucranianos de Volýnh celebram a Páscoa.

As luzes da Páscoa

Na época da Páscoa, as famílias reúnem-se para cozinhar em conjunto, e as comunidades das aldeias e cidades reúnem-se na igreja para abençoar um cesto da Páscoa com alimentos simbólicos (bolo da Páscoa, ovos da Páscoa, enchidos, etc.). A etnóloga Alla Dmytrenko considera a Páscoa um símbolo da unidade familiar. Diz ela: “Sinto falta dela porque, nos últimos anos, os meus filhos têm estado fora, não podem vir, e nós queremos vê-los”.

A mulher recorda como era a Páscoa na sua infância. A sua avó Vasylyna costumava mandá-la para a vala onde floresciam nenúfares. Alla e os seus colegas apanhavam flores amarelas. Nessa altura, a água avermelhada da primavera estava a começar a surgir da terra. Era da mesma cor que as folhas de nenúfares que a pequena Alla costumava trazer para tingir ovos.

— Quando chegavam os dias festivos, e éramos mais novos, íamos para a rua onde as crianças se juntavam: esta tinha um vestido, aquela uma blusa, aquela tinha outras roupas novas. Caminhava-se ao longo da margem, os gomos estavam a abrir e as primeiras folhas da primavera estavam pegadiças. Lembro-me de as apanhar e de as pôr nos bolsos para as minhas provisões, antes que desaparecessem. Descia a rua e levantava a cabeça para que todos vissem como eu era bonita.

Enquanto estudante, Alla descobriu a diversidade das tradições pascais. Por exemplo, lembra-se de uma rapariga que trouxe para a residência de estudantes uma tigela de metal com queijo fresco cozido. Era um prato preparado de acordo com a tradição da sua aldeia: batem-se muitas gemas no queijo fresco, misturam-se, juntam-se açúcar e passas e assa-se no forno nas tigelas.

— O queijo fresco assado numa tigela é um ponto alto da Páscoa, um fenómeno peculiar. E, claro, a Páscoa tem a ver com luzes.

A mulher diz que não conheceu a tradição das luzes da Páscoa na sua juventude devido às políticas repressivas da União Soviética, mas que aprendeu muito sobre o assunto durante as suas expedições na idade adulta.

A religião na URSS
Vladimir Lenine definiu a luta contra a religião como uma forma de luta de classes. O ateísmo, como elemento da ideologia estatal da URSS, implicava a eliminação da vida religiosa organizada e a perseguição do clero e dos pregadores religiosos. Esta política foi mais branda nalguns anos, mas, de um modo geral, manteve-se em vigor até ao colapso da União Soviética.

Todas as coisas velhas de cada casa, como cestos velhos de vime, eram levadas para a fogueira perto da igreja. Mas estas coisas tinham de ser de madeira, palha ou feitas de videiras ou raízes. Nalgumas povoações de Volýnh, era até costume atirar ardósia ou outro material para a fogueira, que estalava à medida que ardia. Além disso, em muitas aldeias de Volýnh, as velhas cruzes de madeira, que eram retiradas do cemitério todos os anos na véspera da festa, eram utilizadas para fazer a fogueira.

Ao mesmo tempo, a etnóloga recorda que era difícil seguir as tradições devido à política da União Soviética na altura, que proibia quaisquer feriados religiosos, tanto na primavera como no inverno.

— Eu queria ir à igreja, porque desde tempos imemoriais que íamos à igreja, acendíamos uma fogueira e as histórias estavam vivas. Mas duas semanas antes da Páscoa, todos os professores nos avisaram na aula: “Se vos virmos perto da igreja, expulsamo-vos da União da Juventude Comunista.” A expulsão do Komsomol significava automaticamente que não se podia entrar na universidade. Por isso, para mim, a Páscoa era também um medo da observância dos costumes.

União da Juventude Comunista
Movimento da juventude comunista na URSS, 1918-1991.

A amiga de Alla tinha muitas vezes a Páscoa no dia do seu aniversário. E um ano, mesmo antes do aniversário de Alla, os pais disseram-lhe: “Alla, tens de compreender, não podemos permitir que cozinhes um bolo por causa do cheiro a bolos. Seria uma pena perder o emprego”.

Por conseguinte, ao longo dos anos, a Páscoa teve diferentes versões para esta mulher. Só na década de 1990, depois de a Ucrânia ter conquistado a independência, é que ela pôde festejar ao máximo e começou a realizar muitas expedições, explorando toda a sua diversidade. Foi assim que esta festa se tornou especial para ela.

Semana Branca, ou como se preparam as pessoas na Ucrânia para a Páscoa?

Os preparativos para a Páscoa começam com sete semanas de antecedência, na Quaresma, que tem essa duração. De acordo com a etnóloga, na segunda metade do século XX, o jejum mais rigoroso era durante a primeira e a última semanas. Antigamente, mesmo que uma pessoa estivesse doente, alguém tinha de se dirigir a um padre para pedir autorização para o doente comer um ovo.

Nos três primeiros dias da semana anterior à Páscoa, lavavam as casas, limpavam os quintais e faziam o trabalho mais duro. As mulheres faziam o trabalho doméstico e os homens o trabalho agrícola, para que nada ficasse espalhado e os estábulos fossem limpos.

Para a mesa festiva, no forno eram assados os enchidos a partir de “carne fresca” (animais acabados de abater, neste caso, um porco): as tripas grossas eram enchidas e as tripas finas eram secas, ficando penduradas ao lado do forno num pau, sob o qual se colocavam gamelas de madeira, “netskys”, para recolher a gordura. Os enchidos finos ficavam pendurados até secarem. Esta comida era uma delícia e um luxo. Outra iguaria pascal comum em Volýnh era o kéndiukh (ou salceson). Este prato de carne era primeiro assado e depois colocado sob uma prensa para perder a água e ganhar a forma desejada.

A quinta-feira da última semana antes da Páscoa é chamada Quinta-Feira Limpa ou Quinta-Feira Santa. De acordo com as histórias de Alla, em algumas aldeias esta quinta-feira também é chamada “Jylnyk”, que significa “sentir pena, lamentar”, porque era a Quinta-Feira Santa de Jesus Cristo. Neste dia, costumava-se dizer: “Se ungiste (caiaste — ed.) a tua casa na quarta-feira e a limpaste, então na quinta-feira tens de lavar, limpar e secar o resto e não voltar a esse trabalho”.

Neste dia, era costume benzer uma vela, chamada vela da Paixão ou da Quinta-Feira. A vela tinha de ser levada da igreja para casa para não se apagar. E em casa, a sua chama era utilizada para queimar cruzes nas soleiras das portas e na entrada e, assim, proteger a casa dos maus espíritos e do olho gordo.

— Quando a vela era benzida na Quinta-Feira Santa, muitos aldeões tentavam correr para casa o mais depressa possível; aqueles que tinham cavalos corriam à frente uns dos outros. Acreditava-se que aquele que chegasse mais depressa a casa com a vela da paixão semearia mais depressa e a sua filha casar-se-ia mais cedo. Do mesmo modo, quando benziam o bolo da Páscoa, tentavam correr para casa com ele o mais depressa possível, porque isso estava associado à rápida conclusão dos trabalhos no campo e a um bom ano pela frente.

Há também referências ao costume de acender uma fogueira no exterior de uma igreja na Quinta-Feira Santa. Muitas destas tradições sobreviveram até aos nossos dias, na íntegra ou com modificações, mas durante muito tempo, antes de a Ucrânia se tornar independente, foram proibidas ou as pessoas que as observavam eram pressionadas pelas autoridades soviéticas. Além disso, algumas tradições foram modificadas sob a influência das comunidades de outras etnias. É assim que o etnólogo descreve a situação:

— Queremos festas tal como eram no século XIX ou no início do século XX, mas não pode ser assim, porque, com o tempo, as tradições mudaram e cada região acrescentou as suas. Nas aldeias onde viviam famílias polacas, os ucranianos celebravam a Páscoa ou o Natal católicos, enquanto os polacos seguiam as tradições ucranianas e, por exemplo, cozinhavam kutiá e depois serviam-se uns aos outros. Trata-se de respeitar esses costumes.

Alla defende que as tradições são cíclicas e evoluem juntamente com a sociedade.

É bom que esteja a ser reavivada a um novo nível. Tal como a nossa sociedade segue uma espiral, também qualquer tradição, qualquer costume, tem o seu próprio desenvolvimento.

Tradições da pintura de pýsankas (ovos da Páscoa)

Em 2013, no sul de Volýnh, perto da aldeia de Demydiv, foi encontrado um ovo da Páscoa antigo, feito há cerca de 950 anos. A singularidade da descoberta é confirmada pela etnóloga Alla:

— Podemos afirmar (conforme documentado por documentos escritos ou artefactos) que a primeira pýsanka foi encontrada na região de Demydiv, não muito longe de Lutsk, no Volýnh etnográfico. A sua origem remonta aos séculos IX e X.

A continuidade da tradição pascal de decorar ovos também está a ser acarinhada e desenvolvida pelos nossos contemporâneos. Uma dessas guardiãs é Lésia Martyniuk, que tem vindo a pintar pýsankas durante toda a sua vida adulta. Fazia pýsankas desde a infância, porque as suas avós e irmãs o faziam. Juntamente com elas, Lésia observou e aprendeu esta arte.

Quando as minhas avós vinham, traziam muitos ovos para dentro de casa em cestos e começavam a pintá-los. Era um verdadeiro espetáculo. Eu tentava fazer o mesmo. Fazia uns traços incertos, uns rabiscos. E elas diziam-me: “Empenha-te, Lésia, está muito bonito. Tens a melhor pýsanka!”

Quando era estudante, Lésia Martyniuk não pintava ovos de Páscoa nem tinha guardados os enfeites que havia feito em criança. Mas quando se licenciou, começou a interessar-se de novo pela tradição de pintar pýsankas. A sua mãe tinha uma coleção de ovos antigos pintados e muitas das obras de arte de Lésia baseiam-se nessas pinturas.

— Pintei uma pýsanka de Volýnh porque é diferente das outras pýsankas ucranianas. Esta pýsanka é dourada porque é tingida com corantes naturais (uma calda de cascas de cebola) nas cores amarelo, laranja, vermelho e terracota. O principal símbolo das pýsankas de Volýnh é o sol. É dourado, quente e tem oito pontas. E a estrela de oito pontas é um símbolo da Ucrânia.

A artesã afirma que, nos últimos tempos, os jovens, sobretudo as mulheres com filhos, têm vindo a aderir a este ofício tradicional. Na sua opinião, o artesanato está a desenvolver-se de duas formas: como pýsanka tradicional e ritualística e como pintura em casca de ovo. Desenvolvem-se em paralelo, tomando emprestados símbolos, sinais e cores uma da outra.

— Uma verdadeira pýsanka é um símbolo do nascimento de uma nova vida. Os ucranianos pagãos consideravam que o ovo continha vida. Pintavam essa pýsanka num ovo de galinha cru. Este tinha de ser fertilizado. Eram utilizados sinais e símbolos especiais para o pintar e pedir uma boa colheita, saúde e tudo o que é bom.

Antes da independência da Ucrânia, as técnicas tradicionais de pintura de ovos de Páscoa não estavam muito difundidas devido à opressão da política bolchevique. Quando foi levantada a proibição da prática desta arte tradicional, os mestres ucranianos começaram a desenvolver abertamente e a transmitir os seus conhecimentos aos jovens. Um desses mestres é Anatolii Boiko, da cidade de Volodymyr-Volynskyi. Decora os ovos com uma técnica única: emoldura as cascas com rendas de bronze e prata e coloca-lhes pedras preciosas. Ensina gratuitamente o seu talento e habilidade no trabalho com ovos da Páscoa a todos os que queiram aprender a fazê-lo.

Depois da pýsanka ser benzida na igreja, era levada para casa e guardada como relíquia. A partir deste ovo, era suposto nascer uma nova vida e felicidade para o dono da casa.

Tal como muitos ucranianos encaram atualmente o Ano Novo como um novo ciclo de vida, este ovo, durante séculos, representou o início de um novo ciclo. Se se estragasse ou se partisse, tinha de ser deitado fora. O conteúdo do ovo era atirado para a água e a casca para a terra. Assim se dizia: água à água, terra à terra.

Lésia Martyniuk explica que as pýsankas cozidas ou kráshankas, que são colocados num cesto, são símbolos de um milagre. Quando alguém foi ter com Pôncio Pilatos e lhe disse que Cristo tinha ressuscitado, ele não acreditou e, quando olhou para os ovos cozidos que lhe tinham dado para o pequeno-almoço, disse: “Isto é tão verdade como estes ovos serem vermelhos”, e eles ficaram vermelhos. É por isso que se põem sempre ovos da Páscoa pintados no cesto. Uma kráshanka é um ovo pintado com uma só cor, e uma krápanka é um ovo pintado com cores diferentes.

As pýsankas da coleção de Lésia Martyniuk e aquelas com que ela trabalha são pintadas em cascas de ovos vazios, ou seja, aquelas que já não têm qualquer conteúdo no interior. Isto é para que os ovos possam ser guardados durante muito tempo e servir como obras de arte.

Para aprender a arte de pintar ovos, a artista considera que se deve começar por copiar as pýsankas. Salienta que não se trata de um desenho ou de uma pintura, mas de uma escrita. A pýsanka é escrita em linhas curtas. Para o fazer, o ovo deve ser constantemente rodado no sentido dos ponteiros do relógio. Quando Lésia mostra às crianças como fazer pýsankas, começa por desenhar duas linhas verticais e duas horizontais em cruz com um simples lápis, e depois elas escrevem o ornamento. Mas ela acrescenta que uma verdadeira pýsanka deve ser escrita sem lápis.

O processo de pintar uma pýsanka deve ser em silêncio. Tem de se sentar, concentrar, pegar num ovo, aquecê-lo com o seu calor e rezar. Depois de Lésia Martyniuk pegar no ovo, não o volta a pôr na mesa até ter acabado de o pintar. Explica que, durante o processo de pintura, só se pode colocar o ovo sobre feno ou cereais. A seguir, a artista aquece bem a pysachók na parte superior da chama, deita cera e começa a escrever.

— Quando pinto uma pýsanka mágica, penso na pessoa a quem a vou oferecer e só penso em coisas boas. Este tipo de pýsanka deve ser tingida apenas com corantes naturais e mantida à vista em casa. Antigamente, os ucranianos tinham um lugar para as pýsankas perto dos ícones. Se falar constantemente com essa pýsanka, o seu desejo tornar-se-á realidade.

A mulher diz que, para preparar uma pýsanka cozinhada para um cesto da Páscoa, é necessário começar por preparar uma calda de cascas de cebola. Para isso, pega-se nas cascas de cebola, coloca-se numa panela, junta-se água, leva-se a ferver e cozinha-se até a água ficar avermelhada ou terracota brilhante. Depois, a solução deve arrefecer e, em seguida, deve ser coada (pode ser usado um coador ou um pano de algodão). É assim que se obtém o corante natural.

As pýsankas cruas, pintadas com cera, colocam-se numa panela com um pano de algodão no fundo. Deita-se a calda de cebola por cima para cobrir as pýsankas. Depois, baixa-se o lume e deixa-se ferver. Mal a água ferva, retiram-se as pýsankas para as colocar em água fria e depois retira-se-lhes a cera. O corpo da pýsanka fica tingido, restando um desenho no lugar da cera.

— Uma mulher comum de uma aldeia pode criar uma pýsanka muito bonita, uma obra-prima. Não é necessário saber desenhar. Basta ter um sentido de composição e o desejo de criar algo bonito. Assim, a pýsanka aparece.

Cozer o bolo da Páscoa no forno de lenha

Jénia Andriichuk, de 77 anos, aprendeu a confecionar o pão da Páscoa festivo com a sua mãe. Quando era criança, observava e memorizava. Mesmo assim, nem sempre tinha a oportunidade de o fazer, uma vez que, em criança, pastoreava vacas.

Quando se casou, a mãe contou-lhe mais e via-a a amassar a massa. A sua principal instrução era a seguinte: “Amassa de modo a que a massa deixe de se agarrar às mãos.” Depois, a mulher começou a cozer ela própria. A mãe ensinou-lhe que era importante não exagerar no teor de gordura da massa.

— Desde que me lembro, faço-o sem receita. No início, fazia-o com dois litros de leite; falhei duas vezes. E depois comecei a fazê-lo com três litros. Acrescento muitos ovos, margarina, óleo de girassol não refinado, baunilha, açúcar e um pouco de canela. Quando se amassa a massa, é preciso fazê-lo com o coração, nunca se zangar e falar para Deus. Amassas e inspiras-te. Quando sentes que a massa já se está a soltar das mãos e que os braços se movem livremente, então está pronta.

De seguida, Jénia põe a massa a descansar. Depois, acende o forno e prepara os bolos para serem cozidos quando o lume estiver quente.

Segundo as histórias de Jénia, os seus antepassados costumavam cozer o pão no forno de lenha sobre um atiçador ou uma pá coberta com uma folha de couve no fundo do forno, que absorvia o calor. Atualmente, coloca os bolos da Páscoa no forno em tigelas.

Tradicionalmente, a mulher cozinhava os bolos da Páscoa na Quinta-Feira Santa e no Sábado de Aleluia. Na Sexta-Feira Santa não pode fazer bolos porque é o dia em que o caixão de Jesus Cristo é retirado da igreja. No sábado, Jénia levanta-se o mais cedo possível, lava a cara, reza e bebe água benta: “Quero cozinhar o mais cedo possível, porque nesse dia vamos à igreja. À noite, preparo o bolo da Páscoa para a bênção. Os meus netos pegam em mim pela mão e, à noite, vamos benzer o cesto com o bolo da Páscoa.

A mulher coloca ramos de salgueiro benzidos em cima das paskas; é um costume. Quando faz isto, diz para si que os bolos crescerão tão bem e serão tão bonitos como o salgueiro. Os ramos de salgueiro são benzidos na igreja no Domingo de Ramos. A mulher coloca mais alguns ramos benzidos no curral onde a vaca está guardada. Quando o gado sai para o pasto pela primeira vez, é ligeiramente batido com estes ramos.

Quando o bolo está pronto, tem que se olhar para o forno, não antes de 15 minutos depois de ter estado no forno. Então, abre-se o forno, nota-se que já está a ficar douradinho e vê-se se é preciso retirar um pouco de calor ou deixá-lo continuar. Tem de crescer de modo a que se possa ver no forno. À noite, depois da bênção, volta-se para casa. Não se vai dormir, põe-se um cesto em cima da mesa e corta-se um bocado de tudo.

A mulher guarda o sétimo bolo da Páscoa cozinhado para o levar à igreja no Domingo de Despedida, o primeiro domingo depois da Páscoa, em que as pessoas se deslocam ao cemitério para recordar e honrar as almas dos mortos (neste dia, realiza-se uma cerimónia na igreja para os que já faleceram). Nalguns locais, mantém-se também a tradição de levar pedaços de bolos e ovos da Páscoa às campas dos entes queridos.

Festejar e brincar com as kráshankas

Outra tradição pascal singular é brincar com os ovos da Páscoa tingidos de uma só cor. Um dos que a manteve ao longo dos anos e a aprecia até aos dias de hoje é Volodymyr Gaponiuk, originário da aldeia de Tchetvertnia. O homem interessa-se pela história da sua pequena terra natal desde criança e, nos seus tempos de escola, preparou um estudo sobre a história da sua aldeia desde os tempos mais remotos. Depois de se ter licenciado em História na universidade, escreveu um ensaio sobre a história local.

Os alunos Sashko e Bogdan estão sentados ao lado de um katók, uma depressão circular no chão com uma ranhura em espiral à volta das suas extremidades. Os rapazes estão a rodar ovos da Páscoa à vez ao longo desta espiral. Volodymyr pede às crianças que lhes recordem as regras do jogo.

— Tens de fazer rolar os ovos: se um ovo rolar e partir o outro, já não podes usar este ovo.

Volodymyr explica que a ideia do jogo da Páscoa era determinar a sequência de quem lançava os ovos a seguir a quem. O primeiro é sempre azarado, porque o lança em livre circulação e, por isso, não ganha nada. O jogador seguinte pode ganhar dois ovos se o seu ovo tocar no primeiro (ou seja, terá os seus próprios ovos e os do participante anterior). Se não houver contacto, o ovo permanece no katók, tal como o anterior.

O jogo tem lugar num katók perfeitamente redondo com um diâmetro largo e é bom ter muitos participantes. Volodymyr repara que as regras modernas são ligeiramente diferentes e recorda como era na sua infância:

— Era sempre interessante, vives numa determinada parte da aldeia, reunimo-nos aí com os nossos amigos que vivem ao nosso lado. Era mais excitante ir com eles até ao outro extremo da aldeia para impor as nossas próprias regras. Aí, experimentavam a sua sorte. Aqueles que eram bons a apanhar ovos de Páscoa e a lançá-los revelavam-se geralmente dignos em todos os assuntos.

Os mais antigos acreditam que este jogo surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Segundo Volodymyr, eram tempos difíceis e, por isso, eram tingidos muito poucos ovos. O jogo tinha um número ilimitado de participantes, que vinham com os seus próprios ovos de Páscoa.

— Infelizmente, a tradição está a degenerar um pouco. As crianças ainda o fazem, mas já não é tão comum como antigamente. Trata-se de uma relíquia especial da tradição pascal.

A caça aos ovos da Páscoa é sempre precedida da sua bênção na igreja. Toda a família vai à cerimónia festiva. A família de Volodymyr Gaponiuk, tal como a maioria das famílias de Volýnh, prepara um cesto da Páscoa, que é benzido na igreja, e regressa a casa com ele. Contém bolos da Páscoa, ovos da Páscoa, produtos lácteos e de carne, e rábano (para recordar a tradição do Antigo Testamento de ervas amargas que em tempos foram consagradas).

— Depois da missa da Páscoa, normalmente de manhã cedo, por volta das quatro ou cinco horas, voltamos para casa. Sentamo-nos todos em família, lemos a oração “Cristo Ressuscitou”  três vezes e beijamo-nos uns aos outros. Este é um ritual especial, uma espécie de beijo que os cristãos têm. Batemos uns nos outros com os ovos de Páscoa, comemos rábano e comemos os alimentos proibidos durante a Quaresma.

A celebração dura três dias. Durante este período, é tradicionalmente muito importante visitar os afilhados e falar-lhes do Evangelho.

Outro costume festivo em Volýnh, que Volodymyr recorda, é o toque dos sinos da igreja. No primeiro dia da Páscoa, até as crianças pequenas e qualquer outra pessoa podem vir tocar os sinos para proclamar as boas novas ao mundo cristão: “Cristo ressuscitou!”.

Material preparado por

Fundador do Ukraïner:

Bogdan Logvynenko

Autora:

Tónia Andriitchuk

Tradutora:

Anna Bogodyst

Editor de tradução:

Guilherme Calado

Gerente de conteúdo:

Leila Ahmedova

Editora Chefe do Ukraïner Internacional:

Anasstacía Marushevska

Coordenadora de Ukraїner International:

Yulia Kozyryatska

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